Nascido em Sobral, o Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT), Francisco José Gomes da Silva, 54 anos, é o terceiro do total de sete filhos nascidos do matrimônio do comerciante José Luís da Silva com a dona de casa Libânia Gomes da Silva. Casado com Valéria Studart Mendonça Gomes é pai de Isabele Studart Mendonça Gomes, Mariana Studart Mendonça Gomes e Marília Studart Mendonça Gomes. O bem-sucedido advogado e Desembargador do TRT da 7ª Região, Dr. Francisco Gomes da Silva, é um exemplo de vida, de atitude e de determinação, de que tudo é possível na vida quando se tem um foco, não importa em que condições. Ele concedeu entrevista à Revista Você Melhor falando da sua trajetória, desde o início de seus estudos nas escolas públicas de Sobral à acirrada disputa pela vaga de Desembargador do TRT/CE. A entrevista do Dr. Francisco José Gomes da Silva é uma lição de vida e um estímulo àqueles que ainda não encontraram um foco em sua vida. Confira.
VM – Desembargador Francisco José Gomes, os leitores da Revista Você Melhor querem saber como começou esta história incrível que o senhor tem a nos ensinar.
FJG – “Bem, os meus pais moravam na zona rural de Massapê, no distrito de Padre Linhares; em 1961, eles foram morar em Sobral. Em 1962 eu nasci. Era o primeiro filho a nascer em Sobral. O meu pai tinha um pequeno comércio e nós morávamos na Rua do Oriente. A minha infância foi igual das demais crianças da época, simples, sem luxo algum.”
VM – Conte-nos como foi os seus primeiros passos rumo ao cargo de Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará?
FJG – “A minha primeira escola foi a São Francisco de Assis, dos frades capuchinhos e, posteriormente, eu fui para o Grupo Escolar Municipal Professor Arruda, onde fiquei até a quinta série. Depois, fui para o Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota, ficando lá até o primeiro ano científico. A minha vida nesta época era simples também, aluno de escola pública, brincando nas praças, tomando refresco de tamarindo na mercearia do Teobaldo, fazendo boas amizades e a vida foi sempre me jogando para os estudos; mas vale lembrar que, até a 8ª série, eu não era muito estudioso e nem me dedicava tanto.”
VM – E em que momento o senhor começou a encarar os estudos de forma mais séria?
FJG – “No primeiro ano científico eu fui para o Colégio Sant’Ana e foi a partir daí que eu comecei a estudar com mais afinco. Nesse momento formei um grupo de estudo com mais dois amigos e todo dia estudávamos na minha casa, às vezes até às três horas da madrugada e foi aí que consegui ter uma boa base nos estudos. Mas esta história teve o começo com uma fila que eu peguei, sem nem saber para o que era, no mesmo dia em que saía da última prova de recuperação do Estadual. Fui atendido pela Irmã Rute e fui sincero com ela, disse que eu não era um aluno estudioso e nem tinha dinheiro para pagar. E ela foi uma santa comigo, pois me matriculou mesmo assim e ainda deu um desconto das mensalidades de 66%. Já o terceiro ano do segundo grau e o pré-vestibular eu fiz no Colégio Cearense, em Fortaleza, e fomos os três amigos estudar na Capital. Logo de primeira eu passei no vestibular para Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC).”
VM – E agora, o que acontece como estudante de Direito em Fortaleza?
FJG – “Na Faculdade de Direito, em 1981, eu me destaquei participando do Movimento Estudantil e do Movimento Operário. Só que em 1982 eu fui aprovado em um concurso público para o Banco do Brasil e tranquei a Faculdade para trabalhar na cidade de Catarina, no centro sul do Ceará, muito distante de Fortaleza. As estradas eram ruins e tudo era muito difícil. Lá fiquei até 1986, quando fui transferido para a cidade de Pentecoste e foi aí que decidi voltar a estudar. E nada foi fácil. Viajava muito a trabalho, ficava exposto ao sol aguardando transportes, numa rotina extenuante e, quando anoitecia, retornando à Fortaleza, ainda ia cursar mais uma disciplina. Ainda assim, nunca faltei a um dia de trabalho ou de aula.”
VM – E depois de formado em Direito, como procedeu a sua vida?
FJG –“Durante o dia eu trabalhava como advogado trabalhista e à noite eu trabalhava no banco no setor de processamento de dados. Foram cinco anos trabalhando assim. Então, com a reforma operacional no Banco do Brasil, recebi o convite para compor o quadro jurídico onde formamos uma equipe muito boa de trabalho. Foi um momento muito rico. E como sempre gostei de estudar, eu não parei por aí.”
VM – Era este estímulo pelo estudo que lhe impulsionava ou tinha algo mais que lhe atraiu ao Direito?
FJG – “Era esse estímulo sim. Eu sempre estava fazendo algum curso vinculado ao Direito e concluí seis especializações, mas tinha algo a mais responsável por esta atração desde o início pelo Direito. Eu tinha 11 anos quando tive uma doença, não me lembro qual, e a minha mãe me levou para uma consulta no antigo prédio do INAMPS, em Fortaleza, onde nos hospedamos na casa de uma tia que morava na Rua Major Facundo. Na volta, passamos em frente à Faculdade de Direito da UFC e eu achei aquilo tudo muito bonito, o brasão, inclusive, e disse à minha mãe que iria estudar lá. Ela pensou que eu estava tendo uma alucinação febril, pois estava doente e com febre, mas aquilo ficou na minha cabeça e sempre quis estudar Direito e sempre vinculado ao Trabalho. Já formado, era no Direito do Trabalho que eu me identificava, defendendo os direitos dos trabalhadores oprimidos, daqueles mais simples que eram enganados, sempre procurando balancear essa relação capital e trabalho.”
VM – Comente um pouco sobre a sua vasta carreira acadêmica.
FJG – “Fiz o Mestrado em Direito Constitucional na Universidade de Fortaleza (Unifor). Atualmente estou concluindo a minha Tese de Doutorado que já está qualificada e prestes a defendê-la e, paralelo a este, estou fazendo um segundo Doutorado na Universidade Autônoma de Lisboa. Então, todo este gosto pelos estudos me levou ao Magistério. Hoje leciono as disciplinas Direito do Trabalho I e II, Processo do Trabalho e Práticas Trabalhistas e tenho livros publicados, revistas, artigos e matérias.”
VM – Que estratégias o senhor utilizou para alcançar o posto de Desembargador?
FJG – “É um processo seletivo criterioso, disputado e muito acirrado. Para isso, tive que me mudar para Brasília e passei dois meses lá, pois o meu foco era a vaga de Desembargador no TRT e eu tinha que ganhar apoio político, pois disputava com candidatos com muito mais recursos e influência política do que eu. Fiz visitas a deputados e senadores mostrando sempre a seriedade pelo interesse ao cargo. Foi assim que eu me tornei Desembargador Federal do Trabalho do TRT do Ceará, nomeado no dia 18 de março de 2014, assumindo minhas funções no dia 24 de março. Desde a minha nomeação, venho buscando praticar a justiça de forma célere, não tenho processo pendente. Procuro trabalhar diariamente, chegando antes do horário do expediente e saindo depois.”
VM – No Brasil, sabemos que a celeridade da Justiça não é algo comum. Como o senhor consegue, então, cumprir os prazos de julgamento dos processos que estão sob a sua responsabilidade?
FJG – “Eu trabalho no Tribunal todos os dias, de segunda a sexta-feira, e tenho conseguido, até hoje, não deixar processos pendentes, todos estão rigorosamente em dia. Eu entendo que o destinatário do Direito, que é a população, tem o direito de ser bem atendido, tem o direito de ter uma prestação jurisdicional célere, ou seja, ele tem que saber, o quanto antes, se tem algum direito ou não. Isso, porque compreendo que a justiça tardia gera uma injustiça, porque se você tem um direito e ele demora muito para ser entregue, não tem mais sentido, porque a fome de hoje não espera pelo amanhã.”
VM – Nesse caso, a celeridade tem pontuado o seu trabalho frente ao TRT do Ceará?
FJG – “Graças a Deus, nestes dois anos e alguns meses de atuação frente ao TRT, sempre preocupado em atender bem às pessoas em suas causas, estamos conseguindo que todos os processos, sem exceção, saiam dentro do prazo, obviamente que a maioria destes sai até antes. E eu digo com segurança, sem soberba, que não tem ninguém para reclamar que eu retive o processo por mais tempo do que aquele previsto pela Lei. Para mim, o conceito da celeridade é muito caro, por isso procuro atender prontamente, dentro do possível e do impossível, tanto o empregado como o empregador, porque eu entendo que as partes procuram a segurança jurídica, que é o bem mais importante que se possa ter.”
VM – Hoje o senhor é Desembargador e muito bem-sucedido. Mas falando em dificuldades, o que poderia servir de exemplo para os nossos leitores como forma de superação no seu exemplo de vida?
FJG – “Viver dentro das suas limitações. Eu sempre vivi dentro da minha possibilidade, na minha realidade. Foi isso que eu sempre fiz, se eu não podia comer filé eu comia ovo. Eu tive um período muito difícil, quando estava em Pentecoste, pois as minhas despesas eram altas e o banco não estava pagando tão bem. Nessa época, eu almoçava côco verde, que por conta do perímetro irrigado da região, era um produto bem barato. Eu tomava a água do coco e comia a polpa. Esse foi o meu almoço por quase seis meses. Eu poderia ter pedido ajuda ao meu pai, ao meu sogro que era um homem rico e não iria negar, mas não o fiz, não por orgulho, apenas vivi a minha realidade.”
VM – Que mensagem o senhor deixa para os leitores para que tenham uma vida melhor?
FJG –“Foco. Eu sempre fui muito focado e não mudo o meu rumo. Estudar e melhorar sempre foram o meu foco. Gosto de trabalhar e, mesmo de férias, eu trabalho. Eu também me preocupo muito com a ética, com a honestidade, com o respeito às pessoas, porque é muito fácil falar dos direitos humanos da boca para fora, o difícil é fazer valer o direito humano na prática. Além disso, buscar o sucesso com honestidade, pois o sucesso desonesto expõe a pessoa no futuro. Então, o meu exemplo serve para todos, pois se eu vim de escola pública municipal e estadual e cheguei ao cargo de Desembargador qualquer um pode chegar, mas chegar através do trabalho sério, com honestidade, com respeito, com ética e muito estudo”.
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