sexta-feira, 29 de julho de 2016

Beto Chaves – Da pipa ao Coaching. Um empreendedor que sonha e realiza.



"O Palestrante Motivacional e Master Coach, Beto Chaves, esteve em Sobral no mês de maio a convite da D2 Eventos Corporativos, onde participou do I Fórum de Gestão, Liderança e Coaching do Ceará".
Na oportunidade, concedeu entrevista à Revista Você Melhor abordando aspectos da sua carreira profissional e pessoal, além de temas como empreendedorismo, inovação empresarial, diferencial de mercado e a importância do Coaching em sua vida profissional. Apesar de desde cedo estar sempre envolvido com negócios, Beto Chaves revela que existem valores inegociáveis, como Deus e a sua família. Ele ressalta, ainda, que o seu legado para futuro são as mensagens de otimismo que leva a milhares de pessoas e que elas não duvidem dos próprios sonhos, pois sempre é possível realizá-los. Confira a entrevista.
VM – Quem é Beto Chaves?
BC – “Sou um sonhador, mas um realizador, porque trabalho com o sonho, mas sempre correndo atrás para realizá-lo, pois um sonho deitado dentro de uma rede é apenas um sonho que nunca vai se realizar”.

VM – Qual a sua origem?
BC – “Eu nasci em 20 de março de 1977, em João Pessoa, na Paraíba. Meus pais são nordestinos de cidades do interior, de origem humilde e, através dos estudos, meus pais conseguiram vencer na vida. Desde cedo, eu sempre escutei dos meus pais que os estudos é que fazem a diferença na vida de uma pessoa. Por isso, sempre me dediquei, sempre estudei, mas também queria empreender. Meus pais não eram empreendedores, meu pai é economista formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e é funcionário público e a minha mãe é psicóloga e atuou como professora. Mas o meu sonho, desde criança, era ser empreendedor e nessa época já colocava em prática.

VM – E quando começou a marca do empreendedor Beto Chaves?
BC – “Quando criança, por volta dos meus oito anos, não se falava em empreendedorismo, mas eu já tinha vontade de ter o meu próprio negócio, mesmo sem ver isso na minha família. Então, com oito anos, eu tinha certa habilidade para fazer pipa e comecei por aí. Eu fazia pipas e vendia para os meus amigos e para os amigos dos meus amigos, mesmo sem necessidade do dinheiro, mais por diversão e por negociar. Foi aí que acabei descobrindo que gostava de estar junto de pessoas e fazer negociações, aumentando a vontade de ter o meu próprio negócio.

VM – Em suas palestras, você fala sobre desafios e adversidades a serem superados. O que você aprendeu com as adversidades que enfrentou na vida?
BC – “As adversidades é o maior aprendizado que um ser humano pode ter, principalmente o empreendedor, pois é muito difícil de empreender no Brasil, é difícil ter um negócio no País. Eu já cheguei a quebrar uma empresa que tinha de tecnologia que trabalhava desenvolvendo sites, era uma das principais do Nordeste – a DC10. Então, saí de uma empresa com 20 funcionários para começar sozinho, tudo do zero, sendo este o maior aprendizado. Aprendi a valorizar mais os meus clientes e dar-lhes mais atenção. E nas minhas palestras e capacitações para os empresários, eu uso esse aprendizado e digo que existe empresa sem sede, sem colaborador, sem computador, mas não existe empresa sem cliente. Em qualquer circunstância, o cliente tem que ser mimado e paparicado.

VM – Você fala de empreendedorismo, cliente, valores negociáveis. E quais são os seus valores inegociáveis?
BC – “Deus e a família são valores inegociáveis. Eu sou casado há 20 anos, com a mesma mulher, casei bem novo. A minha esposa chama-se Juliana Maria e tenho duas filhas Maria Isabel e Maria Teresa. Embora esteja sempre viajando, estou sempre presente na vida delas. E vou conciliando de forma equilibrada a minha vida profissional com a pessoal e eu aprendi isso com o Coaching. Sempre tive uma ligação muito forte com a minha esposa e filhas, mas com o Coaching eu aprendi a me dedicar 100% quando estiver presente com elas. Antes eu estava com elas, mas era fazendo algum trabalho em casa, ligado ao celular, com tempo disperso. Hoje não, os poucos dias que estou em casa eu estou 100% presente com elas, então não é a quantidade, e sim, a qualidade de tempo.

VM – E como o Coaching surgiu na sua vida?
BC – “Eu já tinha uma carreira como palestrante, como mais de 300 palestras no Brasil para grandes empresas. Porém, desde que iniciei a minha carreira de palestrante eu sempre busquei me aperfeiçoar, nunca fiquei na minha zona de conforto. Então fiz Coaching para melhorar a minha carreira e potencializar as minhas palestras, mas me apaixonei pelo Coaching. A partir daí, passei a estudar profundamente o Coaching e fui fazendo mais e mais cursos e foi quando decidi fazer treinamentos focados em Coaching. Então o primeiro treinamento foi o Líder Coaching e depois criei o Instituto Beto Chaves Coaching (BCC) para treinamentos específicos. Hoje, a minha agenda é 90% para treinamento focado em Coaching e 10% para palestras, pois a minha agenda é bem intensa e temos algumas vagas apenas em novembro”.

VM – No empreendedorismo existe definições diferenciadas para sucesso e prosperidade?
BC – “O sucesso é algo que lhe deixa bem consigo mesmo, já a prosperidade é tudo aquilo que você conseguiu alcançar com o seu sucesso. Existem pessoas que conseguem alcançar o sucesso mas não alcança a prosperidade financeira, ou seja, a pessoa tem a alegria, tem a felicidade do sucesso, mas não está conseguindo ter o resultado. O ideal é que os dois caminhem juntos.

VM – Qual a mensagem que você deixa para os leitores da Revista Você Melhor?
BC – “É uma frase minha que uso muito: “onde há sonhos, há esperança”. Então dizer para as pessoas de que nunca deixem de acreditar em seus sonhos, mesmo que outras pessoas duvidem do seu sonho, você não pode duvidar do seu sonho, tem que acreditar e nunca desistir. Não é fácil realizar sonhos, não conheço nenhum grande vencedor que conquistou as coisas de forma fácil. Então, é preciso muita luta, muita determinação, muita persistência para chegar a atingir os seus objetivos.

VM – Qual o legado que você quer deixar para as suas filhas e para a humanidade?
BC – “Na verdade, eu penso esta pergunta de outra forma, pois não quero partir tão cedo (risos). Qual o legado que eu quero construir? O que eu estou construindo para deixar para os meus netos, os meus bisnetos e para o mundo? Então, hoje eu tenho alguns livros que disponibilizo gratuitamente e meu legado é levar mensagens de otimismo às pessoas e saber que várias delas começaram a empreender e muitas não desistiram dos seus sonhos depois que assistiram a uma das minhas palestras. Já recebi um depoimento de agradecimento de uma pessoa que não terminou o seu relacionamento por conta disso. Ele estava separado da esposa há um mês e, depois que ouviu a minha história, se reconciliou reorganizou a vida e hoje tem duas filhas e vive muito feliz, então este é o meu legado.

Professora Ana Regina Noto



"Doutorado em Ciências da Saúde. Professora do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo. Coordenadora do NEPSIS (Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substâncias)".
VM – O que leva os jovens e adolescentes a usar drogas?
ARN – A relação é complexa uma vez que existem diferentes drogas, padrões, vulnerabilidades e contextos de uso. Os primeiros episódios de uso podem ocorrem por curiosidade na medida em que situações de oportunidades acontecem no dia a dia do adolescente. O consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo, é muito mais acessível e tende a ocorrer com maior probabilidade. Porém, o uso pode avançar e se tornar problemáticos a partir de um conjunto de vulnerabilidades biológicas, psicológicas e sociais. Ou seja, questões básicas como as condições e desenvolvimento do adolescente, traços de personalidade, relações familiares, carga genética, aspectos sociodemográficos, contexto social e cultural, desempenho acadêmico, planejamento de vida, religiosidade, crenças, valores, entre inúmeros outros fatores que atuam em interação. Assim, o uso problemático pode ser interpretado muito além de um problema em si, mas especialmente como um indicador de aspectos da vida do adolescente que merecem atenção e cuidado.

VM – Qual a diferença entre Uso, Abuso e Dependência de drogas?
ARN – É muito importante diferenciar esses padrões, pois cada um requer olhar diferenciado sobre a forma de lidar com a questão. O uso é referente ao comportamento de consumo da droga em si, que pode ou não vir acompanhado de consequências.

O abuso já é um padrão de uso caracterizado pela presença de problemas sociais ou de saúde. A dependência é um estado decorrente do uso crônico, a partir do qual o usuário vai perdendo a autonomia e habilidade de tomar decisões conscientes sobre usar ou não determinada droga.
Passa a usar a substância por impulso, com reduzida capacidade de reflexão e controle. Esse impulso é descrito pelos usuários como “incontrolável”. A dependência é a situação que requer tratamento especializado.

VM – Quais as substâncias mais consumidas entre os jovens e quais fatores favorecem seu uso?
ARN – As bebidas alcoólicas são as substâncias mais usadas entre os adolescentes e jovens. Não são apenas as mais consumidas, mas acompanham uma série de riscos como acidentes, comportamento sexual sem proteção, violência, entre outros. O tabaco é a segunda substância mais consumida, seguida por inalantes, maconha e vários medicamentos psicotrópicos. As porcentagens de uso variam muito de acordo com a faixa etária. Entre adolescentes do ensino médio, por exemplo, cerca de 30% relata ter se embriagado no mês anterior.

VM – Há medicamentos psicotrópicos que também são reconhecidos e utilizados como drogas. Quais são as classes mais consumidas e qual a finalidade de seu uso entre os jovens?
ARN – Muitos estudantes, especialmente as meninas, referem ter consumido benzodiazepínicos sem prescrição médica. São medicamentos usados para redução da ansiedade ou para induzir o sono. Outra classe citada é a das anfetaminas, usadas para emagrecimento ou para manter o alerta, por exemplo, para manter a vigília, seja para uma noite de estudo ou para balada. Esses medicamentos são raramente reconhecidos e, portanto, geralmente negligenciados em programas preventivos.

VM – Há diferenças entre o consumo de drogas entre os jovens de níveis socioeconômicos e culturais distintos?
ARN – Os levantamentos epidemiológicos mostram poucas diferenças entre, por exemplo, estudantes de escolas públicas e particulares.
Porém, existem diferenças em alguns subgrupos. Jovens em festas eletrônicas, geralmente usam drogas sintéticas com finalidade de diversão pontual.
A população de rua, em contrapartida, tende a apresentar um padrão mais crônico de uso de outras drogas e, para esse subgrupo, o consumo de drogas é um sintoma que denuncia sérias questões de direitos humanos e desigualdades sociais. Ainda existem pessoas que fazem uso de substâncias em contexto ritual religioso, norteado por um conjunto de valores e regras de uso.  Cada contexto de uso tem suas peculiaridades e deve ser interpretado dentro dessas especificidades.

VM – Atualmente discute-se a respeito da Política de Redução de Danos. O que seria esta política e qual o seu impacto para os jovens usuários de drogas?
ARN – A Política de Redução de Danos é uma abordagem que contrapõe a fracassada Política de Proibicionismo centrado na Droga. A redução de danos é centrada no cuidado com o indivíduo, buscando minimizar os danos sociais e à saúde associados ao uso de substâncias. Parte do princípio de que o uso de drogas é milenar e que não existe na história da humanidade qualquer sociedade “livre” de drogas.

Trata-se de uma abordagem mais contextualizada, na medida em que respeita direitos humanos e considera a diversidade.
Um exemplo de Redução de Danos do álcool entre jovens são ações em baladas que facilitam acesso a transporte no sentido de evitar que uma pessoa embriaga dirija, ou seja, tem o foco na redução dos acidentes assumindo que o consumo de álcool ocorre e é aceito pela sociedade.
VM – No Brasil, quais as opções de tratamento para os usuários de drogas?
ARN – Existem inúmeras opções de tratamento no Brasil, mas o acesso não é igualmente distribuído no país. As maiores cidades contam com CAPS-AD (Centros de Atenção Psicossocial especializado em álcool e outras drogas) que são serviços públicos ambulatoriais com equipe multidisciplinar para atender demandas de cuidados médicos, psicológicos e sociais. Para casos mais graves, o sistema público disponibiliza internação. Vale lembrar que a internação é considerada exceção, pois o ideal é que o paciente aprenda lidar com situações de risco do dia a dia, sendo esperado que atravesse esse período de aprendizado com episódios de recaídas. Ainda vale o destaque para a ampla disponibilidade de grupos de ajuda mútua, como os Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos. Os resultados desses grupos são similares aos de tratamentos muito sofisticados, com a vantagem de estarem presentes em cidades pequenas e distantes dos grandes centros. Dentro dessa grande gama de opções, o mais importante é saber que tratamentos caros e sofisticados não apresentam efetividade maior do que os ofertados pelo sistema público. A diferença está em contextualizar o tratamento às demandas da pessoa, tendo em mente três eixos: médico, psicológico e social.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Entrevista: Desembargador do TRT do Ceará, Francisco José Gomes da Silva



Nascido em Sobral, o Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT), Francisco José Gomes da Silva, 54 anos, é o terceiro do total de sete filhos nascidos do matrimônio do comerciante José Luís da Silva com a dona de casa Libânia Gomes da Silva. Casado com Valéria Studart Mendonça Gomes é pai de Isabele Studart Mendonça Gomes, Mariana Studart Mendonça Gomes e Marília Studart Mendonça Gomes. O bem-sucedido advogado e Desembargador do TRT da 7ª Região, Dr. Francisco Gomes da Silva, é um exemplo de vida, de atitude e de determinação, de que tudo é possível na vida quando se tem um foco, não importa em que condições. Ele concedeu entrevista à Revista Você Melhor falando da sua trajetória, desde o início de seus estudos nas escolas públicas de Sobral à acirrada disputa pela vaga de Desembargador do TRT/CE. A entrevista do Dr. Francisco José Gomes da Silva é uma lição de vida e um estímulo àqueles que ainda não encontraram um foco em sua vida. Confira.
VM – Desembargador Francisco José Gomes, os leitores da Revista Você Melhor querem saber como começou esta história incrível que o senhor tem a nos ensinar.
FJG – “Bem, os meus pais moravam na zona rural de Massapê, no distrito de Padre Linhares; em 1961, eles foram morar em Sobral. Em 1962 eu nasci. Era o primeiro filho a nascer em Sobral. O meu pai tinha um pequeno comércio e nós morávamos na Rua do Oriente. A minha infância foi igual das demais crianças da época, simples, sem luxo algum.”
VM – Conte-nos como foi os seus primeiros passos rumo ao cargo de Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará?
FJG – “A minha primeira escola foi a São Francisco de Assis, dos frades capuchinhos e, posteriormente, eu fui para o Grupo Escolar Municipal Professor Arruda, onde fiquei até a quinta série. Depois, fui para o Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota, ficando lá até o primeiro ano científico. A minha vida nesta época era simples também, aluno de escola pública, brincando nas praças, tomando refresco de tamarindo na mercearia do Teobaldo, fazendo boas amizades e a vida foi sempre me jogando para os estudos; mas vale lembrar que, até a 8ª série, eu não era muito estudioso e nem me dedicava tanto.”

VM – E em que momento o senhor começou a encarar os estudos de forma mais séria?
FJG – “No primeiro ano científico eu fui para o Colégio Sant’Ana e foi a partir daí que eu comecei a estudar com mais afinco. Nesse momento formei um grupo de estudo com mais dois amigos e todo dia estudávamos na minha casa, às vezes até às três horas da madrugada e foi aí que consegui ter uma boa base nos estudos. Mas esta história teve o começo com uma fila que eu peguei, sem nem saber para o que era, no mesmo dia em que saía da última prova de recuperação do Estadual. Fui atendido pela Irmã Rute e fui sincero com ela, disse que eu não era um aluno estudioso e nem tinha dinheiro para pagar. E ela foi uma santa comigo, pois me matriculou mesmo assim e ainda deu um desconto das mensalidades de 66%. Já o terceiro ano do segundo grau e o pré-vestibular eu fiz no Colégio Cearense, em Fortaleza, e fomos os três amigos estudar na Capital. Logo de primeira eu passei no vestibular para Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC).”

VM – E agora, o que acontece como estudante de Direito em Fortaleza?
FJG – “Na Faculdade de Direito, em 1981, eu me destaquei participando do Movimento Estudantil e do Movimento Operário. Só que em 1982 eu fui aprovado em um concurso público para o Banco do Brasil e tranquei a Faculdade para trabalhar na cidade de Catarina, no centro sul do Ceará, muito distante de Fortaleza. As estradas eram ruins e tudo era muito difícil. Lá fiquei até 1986, quando fui transferido para a cidade de Pentecoste e foi aí que decidi voltar a estudar. E nada foi fácil. Viajava muito a trabalho, ficava exposto ao sol aguardando transportes, numa rotina extenuante e, quando anoitecia, retornando à Fortaleza, ainda ia cursar mais uma disciplina. Ainda assim, nunca faltei a um dia de trabalho ou de aula.”

VM – E depois de formado em Direito, como procedeu a sua vida?
FJG –“Durante o dia eu trabalhava como advogado trabalhista e à noite eu trabalhava no banco no setor de processamento de dados. Foram cinco anos trabalhando assim. Então, com a reforma operacional no Banco do Brasil, recebi o convite para compor o quadro jurídico onde formamos uma equipe muito boa de trabalho. Foi um momento muito rico. E como sempre gostei de estudar, eu não parei por aí.”

VM – Era este estímulo pelo estudo que lhe impulsionava ou tinha algo mais que lhe atraiu ao Direito?
FJG – “Era esse estímulo sim. Eu sempre estava fazendo algum curso vinculado ao Direito e concluí seis especializações, mas tinha algo a mais responsável por esta atração desde o início pelo Direito. Eu tinha 11 anos quando tive uma doença, não me lembro qual, e a minha mãe me levou para uma consulta no antigo prédio do INAMPS, em Fortaleza, onde nos hospedamos na casa de uma tia que morava na Rua Major Facundo. Na volta, passamos em frente à Faculdade de Direito da UFC e eu achei aquilo tudo muito bonito, o brasão, inclusive, e disse à minha mãe que iria estudar lá. Ela pensou que eu estava tendo uma alucinação febril, pois estava doente e com febre, mas aquilo ficou na minha cabeça e sempre quis estudar Direito e sempre vinculado ao Trabalho. Já formado, era no Direito do Trabalho que eu me identificava, defendendo os direitos dos trabalhadores oprimidos, daqueles mais simples que eram enganados, sempre procurando balancear essa relação capital e trabalho.”

VM – Comente um pouco sobre a sua vasta carreira acadêmica.
FJG – “Fiz o Mestrado em Direito Constitucional na Universidade de Fortaleza (Unifor). Atualmente estou concluindo a minha Tese de Doutorado que já está qualificada e prestes a defendê-la e, paralelo a este, estou fazendo um segundo Doutorado na Universidade Autônoma de Lisboa. Então, todo este gosto pelos estudos me levou ao Magistério. Hoje leciono as disciplinas Direito do Trabalho I e II, Processo do Trabalho e Práticas Trabalhistas e tenho livros publicados, revistas, artigos e matérias.”

VM – Que estratégias o senhor utilizou para alcançar o posto de Desembargador?
FJG – “É um processo seletivo criterioso, disputado e muito acirrado. Para isso, tive que me mudar para Brasília e passei dois meses lá, pois o meu foco era a vaga de Desembargador no TRT e eu tinha que ganhar apoio político, pois disputava com candidatos com muito mais recursos e influência política do que eu. Fiz visitas a deputados e senadores mostrando sempre a seriedade pelo interesse ao cargo. Foi assim que eu me tornei Desembargador Federal do Trabalho do TRT do Ceará, nomeado no dia 18 de março de 2014, assumindo minhas funções no dia 24 de março. Desde a minha nomeação, venho buscando praticar a justiça de forma célere, não tenho processo pendente. Procuro trabalhar diariamente, chegando antes do horário do expediente e saindo depois.”

VM – No Brasil, sabemos que a celeridade da Justiça não é algo comum. Como o senhor consegue, então, cumprir os prazos de julgamento dos processos que estão sob a sua responsabilidade?
FJG – “Eu trabalho no Tribunal todos os dias, de segunda a sexta-feira, e tenho conseguido, até hoje, não deixar processos pendentes, todos estão rigorosamente em dia. Eu entendo que o destinatário do Direito, que é a população, tem o direito de ser bem atendido, tem o direito de ter uma prestação jurisdicional célere, ou seja, ele tem que saber, o quanto antes, se tem algum direito ou não. Isso, porque compreendo que a justiça tardia gera uma injustiça, porque se você tem um direito e ele demora muito para ser entregue, não tem mais sentido, porque a fome de hoje não espera pelo amanhã.”

VM – Nesse caso, a celeridade tem pontuado o seu trabalho frente ao TRT do Ceará?
FJG – “Graças a Deus, nestes dois anos e alguns meses de atuação frente ao TRT, sempre preocupado em atender bem às pessoas em suas causas, estamos conseguindo que todos os processos, sem exceção, saiam dentro do prazo, obviamente que a maioria destes sai até antes. E eu digo com segurança, sem soberba, que não tem ninguém para reclamar que eu retive o processo por mais tempo do que aquele previsto pela Lei. Para mim, o conceito da celeridade é muito caro, por isso procuro atender prontamente, dentro do possível e do impossível, tanto o empregado como o empregador, porque eu entendo que as partes procuram a segurança jurídica, que é o bem mais importante que se possa ter.”

VM – Hoje o senhor é Desembargador e muito bem-sucedido. Mas falando em dificuldades, o que poderia servir de exemplo para os nossos leitores como forma de superação no seu exemplo de vida?
FJG – “Viver dentro das suas limitações. Eu sempre vivi dentro da minha possibilidade, na minha realidade. Foi isso que eu sempre fiz, se eu não podia comer filé eu comia ovo. Eu tive um período muito difícil, quando estava em Pentecoste, pois as minhas despesas eram altas e o banco não estava pagando tão bem. Nessa época, eu almoçava côco verde, que por conta do perímetro irrigado da região, era um produto bem barato. Eu tomava a água do coco e comia a polpa. Esse foi o meu almoço por quase seis meses. Eu poderia ter pedido ajuda ao meu pai, ao meu sogro que era um homem rico e não iria negar, mas não o fiz, não por orgulho, apenas vivi a minha realidade.”

VM – Que mensagem o senhor deixa para os leitores para que tenham uma vida melhor? 
FJG –“Foco. Eu sempre fui muito focado e não mudo o meu rumo. Estudar e melhorar sempre foram o meu foco. Gosto de trabalhar e, mesmo de férias, eu trabalho. Eu também me preocupo muito com a ética, com a honestidade, com o respeito às pessoas, porque é muito fácil falar dos direitos humanos da boca para fora, o difícil é fazer valer o direito humano na prática. Além disso, buscar o sucesso com honestidade, pois o sucesso desonesto expõe a pessoa no futuro. Então, o meu exemplo serve para todos, pois se eu vim de escola pública municipal e estadual e cheguei ao cargo de Desembargador qualquer um pode chegar, mas chegar através do trabalho sério, com honestidade, com respeito, com ética e muito estudo”.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Entrevista: Dr. Celmo Celeno Porto




O conceituado médico, Dr. Celmo Celeno Porto, autor de importantes obras didáticas na Medicina, que há 25 anos vêm contribuindo com seus livros de Semiologia Clínica para a formação de médicos em todo País, esteve em Sobral para ministrar palestra. Na oportunidade, o Dr. Celmo Celeno Porto concedeu entrevista para a Revista Você Melhor, onde abordou aspectos da relação médico/paciente, reorganização do sistema saúde, ética e prática médica, uso das tecnologias digitais entre outros assuntos. Atencioso e agradável, ao compromisso do encontro, ele recebeu a equipe da Revista Você Melhor no Centro de Educação à Distância (CED), em uma atmosfera calorosa e receptiva. A acolhida à equipe se deu com um sorriso no rosto e um generoso aperto de mão, dando prova de que o homem/médico se faz respeitado e admirado não apenas pela coerência do seu discurso, mas também pelo o exemplo de vida irretocável.
VM – O Sr. está visitando Sobral pela primeira vez para ministrar palestra em congresso médico. Qual a sua impressão acerca da cidade?

CCP – “Primeiro, é uma grande satisfação participar deste congresso, pois acredito muito em eventos que são organizados pelos alunos através de suas ligas médicas, pois é aí que acontece toda a transformação do ensino médico durante a Faculdade. Também estou encantado com a cidade de Sobral, percebe-se a sua pujança, que é hoje um pólo consagrado na área da educação e com certeza vai ser em outras áreas também”.

VM – Dr. Celmo Celeno Porto, o que lhe atraiu e lhe atrai na Medicina?

CCP – “Foi sempre o contato com o paciente. Para mim, o que prevalece e deve ser o motivo do trabalho médico é o interesse pelo encontro com o paciente para ajudar aquela pessoa que está fragilizada, em sofrimento, então eu preciso estar interessado em ajudar”.

VM – Em que época o Sr. estabeleceu esta ideia?

CCP – “Foi aos cinco anos de idade quando eu acompanhava o meu pai (Calil Porto) em visita aos seus pacientes, em suas residências, em uma pequena cidade de Minas Gerais. Lembro-me de suas pacientes, a dona Rosa, a dona Romana e outros. Então, a minha vocação vem desde criança, essa origem é muita antiga. Portanto, desde cedo eu vi meu pai sentado ao lado do leito destas pacientes, conversando com elas e dando para elas, o que em qualquer lugar do mundo é assistência e cuidado médico. E continuo achando que esta é a verdadeira vocação médica”.

VM – Quais competências devem ser desenvolvidas por alguém que deseja exercer a Medicina?

CCP – “Nesse caso, o futuro médico tem que aprender a ver as pessoas com respeito, viver com respeito, ter compaixão e ver a Medicina com honra. O médico tem que ser íntegro, não pode ser arrogante, não pode mentir, não pode ser enganador, pois se for assim ele não pode ser médico. O futuro médico tem que entender que a Medicina exige dele qualidades humanas e princípios éticos, sem os quais, ele não pode exercer a profissão. Eu costumo dizer que o Ato Médico perfeito tem três componentes: o ético e o humano, que caminham juntos e, em terceiro, a competência científica. Se o médico consegue reunir estes três componentes ele vai praticar o ato médico perfeito”.

VM – Qual a sua opinião sobre a relação médico/paciente que se dá através das redes sociais ou pelos aplicativos de mensagens atuais, como o Whatsapp?

CCP – “Este é um tema fascinante, pois isso realmente está acontecendo e vem sendo tema de estudo e eu até já fiz uma artigo intitulado O Médico, o Paciente e a Internet, que será publicado, em breve, no site da minha editora. Hoje, existe a necessidade de se restaurar a relação médico-paciente na prática médica e isso já está bem claro. Os pacientes já percebem esta necessidade com muita clareza. Sempre que se fizer um estudo sobre reclamação ou ação contra médico, a tônica é a relação médico-paciente de má qualidade, então, isso é ponto pacífico. O uso desta forma de comunicação é uma questão em que o Conselho Federal de Medicina (CFM) já se pronunciou, embora esteja em aberto, mas a consulta à distância não é ético. Ela não preenche as condições necessárias para que o médico consiga fazer o diagnóstico e tome decisões adequadas sobre a doença, a terapêutica e outras situações da consulta médica. O que pode vir depois, que é a evolução, não existe problema em se utilizar estas tecnologias imediatas. Nessa fase não há problema, pois o médico já tem o domínio do essencial do paciente e o seu agravo, precisa-se, então, separar os dois momentos quando trata-se desta questão. A consulta é presencial. O seguimento, o follow-up, é que poderão ser utilizados estes recursos à distância.

VM – Então podemos considerar a relação médico/paciente como a essência da prática médica?

CCP – “Sim. A relação médico/paciente é a essência da Medicina, nada a substitui. Toda vez que esta relação perde qualidade, a Medicina também perde qualidade. O componente chamado relação médico/paciente é o que estabelece uma série de condições básicas para a prática médica, entre elas a confiança. Quando o médico não desperta a confiança o paciente não adere ao tratamento. Um importante indicador para entender a qualidade desta relação é a adesão ao tratamento. Se a adesão ao tratamento está baixa pode verificar que um dos fatores que está interferindo é a má qualidade da relação médico/paciente, não é a tecnologia que faltou, mas sim uma boa relação da prática médica.

VM – Qual a sua opinião sobre o uso excessivo de recursos tecnológicos (exames de imagem) utilizados pelos médicos para diagnóstico?

CCP – “Eu valorizo mais a anamnese do que o exame físico, na minha visão médica a anamnese é 80% e o exame físico é complemento. Se eu não fizer bem feito a anamnese eu não tenho condição de fazer hipóteses diagnósticas consistentes. Sem isso, eu não vou saber os exames complementares adequados, saber interpretá-los e, o final de tudo isso, é uma proposta terapêutica de má qualidade e, se eu for tentar fazer prognóstico, aí é que não vai dar certo. Eu não tenho dúvida: Medicina de qualidade tem como base um exame clínico inicial bem feito, pois não tem conserto se começar errado”.

VM – Como o Sr. avalia o sistema de saúde brasileiro atual?

CCP – “A organização do sistema de saúde tem que começar com uma Atenção Primária bem feita, que é a mais barata, a mais eficiente e é aquela que dá origem à boa Medicina. Os países civilizados já compreenderam isso, por exemplo, o Canadá, que mudou tudo lá, e o foco é na Atenção Primária. O caminho é esse, mas isso não é charmoso, isso não dá manchete, envolve poucos recursos, mas não tenho dúvida que o foco deve ser a Atenção Primária.

VM – Sabe-se que hoje o médico da Atenção primária é muito desprestigiado e o parâmetro para isso é falta de interesse dos médicos pelas Residências de Medicina de Família e Comunidade. O que o Sr. pensa sobre isto?

CCP – “E tem uma razão para isso: não existe carreira de Estado para o médico. Tem uma proposta no Congresso Nacional, que eu ajudei a fazer, que é a carreira de Estado para o médico da Atenção Primária, como existe no sistema judiciário. O médico deve ser admitido na Atenção Primária com um salário digno, com uma infraestrutura adequada, com o respeito da população e dos gestores. Essa posição tem que ser assumida por nós médicos, pelos nossos colegas líderes nas casas legislativas que vai refletir na legislação. Nós, médicos, temos que ter essa visão ideológica coletiva de futuro e não apenas de momento, centrada no individual ou em grupos. O sistema tem que ser reorganizado, pois ele está caindo aos pedaços, é muito caro e denota uma insatisfação generalizada e essa organização passa pela nossa categoria.

VM – Como o Sr. compreende o processo saúde/doença?

CCP – “A doença é uma má consequência de alguma coisa, pois nós não nascemos para sermos doentes. O processo saúde/doença é uma visão de conjunto, pois é um processo absolutamente intricado. Eu aprendi uma coisa: estar doente é diferente de sentir-se doente. Estar doente é um rótulo que o médico coloca no paciente, sentir-se doente é outra coisa”.

VM – E como se dá este rótulo?

CCP – Às vezes uma pessoa vai ao médico, sem estar sentindo nada, e recebe um rótulo como “você tem pressão alta”, então, a pessoa torna-se doente. Isto acontece muito por causa da forma inadequada de como o médico se expressa com o paciente e este acaba somatizando o rótulo. Por outro lado, o próprio ensino médico está centrado na doença, mas isso pode ser mudado, pois a Medicina não é fixa desde Hipócrates já que sofreu muitas mudanças ao longo destes dois mil anos e esse foco pode mudar. Essa mudança começa no Curso de Medicina objetivando formar novas gerações de médicos em que a saúde e a doença passem a ser vistas com o mesmo foco.

VM – Que mensagem o Sr. deixa para os estudantes de Medicina e para os que estão começando na profissão?

CCP – “Todos os dias, eles devem se fazer uma pergunta. Eu estou na profissão certa? A Medicina não aceita a pessoa que tenha uma vocação pela metade, ela não admite um médico que não esteja inteiramente comprometido com a sua profissão. Enfim, é o compromisso com a profissão, examinar a sua consciência e perguntar sempre se está na profissão certa. Eu nem vejo com maus olhos os estudantes, pois eles entram na Faculdade muito novos, às vezes com 16 anos e nem sabem ainda bem o que querem. E para isso deve ter a contribuição do Curso, dos professores que, logo no começo da Faculdade, não devem mostrar para eles apenas o cadáver, a anatomia, a lâmina, mas mostrar o que é a Medicina, a realidade da profissão, aí eles vão decidir com mais segurança se continuam naquele caminho ou não”.